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agia5
quinta-feira, 30 de março de 2017
quinta-feira, 23 de março de 2017
A KGB, a StB e a.....SB.
Carimbo do Ministro do Interior (fonte: Wikipedia)
Certamente nossos leitores já se depararam em nossos artigos com informações sobre atividades da KGB soviética e da StB tchecoslovaca em território brasileiro,...pois bem, agora chegou a hora de escrever um pouco sobre a SB polonesa. A SB, por extenso, a Służba Bezpieczeństwa (Serviço de Segurança), foi um orgão de segurança estatal vinculado ao Ministério do Interior (Ministerstwo Spraw Wewnętrznych) da República Popular da Polônia. Funcionou de 1956 até 1989 e foi sucessor da UB (Urząd Bezpieczeństwa Publicznego - Agência de Segurança Pública). A tarefa da SB era essencialmente a de defender o sistema comunista na Polônia. Em outras palavras, foi uma polícia política do regime totalitário que controlava e vigiava a população. Além disso, uma de suas unidades era o Departamento I, que realizava atividades de inteligência no exterior. Esse é o departamento que mais nos interessa...
Segundo documentos existentes nos arquivos do IPN (Instytut Pamięci Narodowej - Instituto de Memória Nacional)* a SB também atuava no Brasil, o codinome da sua rezidentura (base no estrangeiro) no Rio de Janeiro era “SANTOS”, que esteve ativa de 1954 até 1962. Antes deste período, desde 1952, havia um funcionário seu no Brasil que se ocupava de questões de Contrainteligência. A partir de maio de 1957, o residente foi o major J.J. de codinome „Flor”.
Fragmento do documento: Varsóvia, 15 de setembro de 1962 - secreto
No curso de
nossas pesquisas, encontramos um documento de 15 de setembro de 1962, dedicado à avaliação de trabalho deste funcionário da rezidentura, onde podemos ler que, em
abril de 1957, o major J.J. (no documento consta o nome completo) foi enviado
para trabalhar na rezidentura “Santos” e que ocupou oficialmente o cargo de adido
da Legação da República Popular da Polônia, até a data de 4 de julho de 1962.
Tradução: Avaliação do
trabalho do funcionário da rezidentura “SANTOS”
Neste mesmo
documento está escrito, entre outras coisas, que: “...No trabalho do major J. devem ser diferenciados dois períodos: o
primeiro, de 1957 até 1959, ou seja, até o momento de regresso ao país por
motivos de férias, o seu trabalho se caracterizou principalmente na aquisição
de informações políticas e econômicas do território do Brasil. Por este período,
o trabalho do major recebeu, então, uma avaliação positiva.” Também existe
a informação de que: “... o major J. com
base na agentura [rede de agentes – nota do autor] existente (recrutou, entre outros, o agente de codinome “EDO”) e nos
contatos de informação possuídos, deveria concentrar-se na aquisição de dados
sobre a política dos EUA, Inglaterra, França e RFA” (República Federal da
Alemanha – nota do autor). Segundo o
documento, “...a realização desta tarefa
não trouxe os resultados esperados por que
a coleta de dados sobre os países acima citados (com exceção de informações
sobre pressão dos EUA exercida sobre países da América Latina) foi irrealizável.
Neste sentido, o Brasil é um tipo de província
política e os acontecimentos europeus chegam até aqui com um certo atraso.
A instrução da Central de nr. 7/B do dia 20
de setembro de 1961, continha novas diretrizes de nosso trabalho, acentuando
principalmente na construção de uma rede de apoio de agentes, levando em conta
principalmente a formação de pontos de endereço e na busca de candidatos como
pessoas de ligação com o território dos EUA.” Fragmento do documento descrito neste artigo
Na folha
seguinte, podemos ler que “FLOR”:
“ Recrutou
os agentes “EDO” e “AMARO” e adquiriu alguns contatos de informação. “EDO”, sob
a inspiração do major J., escreveu um livro sobre questões alemãs, (...)
Forneceu
(trata-se de “FLOR”- nota do autor) toda
uma série de informações atualizadas de caráter político e econômico,
principalmente uma fotocópia de um sigiloso plano brasileiro de perspectivas
econômicas sobre as tendências de desenvolvimento de todas as regiões do mundo para
os próximos 20 anos, que foi (este plano – nota do autor) aproveitado não somente para a elaboração de
análises da Seção XI do Departamento I, como também foram elaboradas informações
para os amigos soviéticos.
Forneceu toda uma série de características e conexões operacionais, que
por certos motivos não pudemos desenvolver e foram entregues a título de
informação e para eventual
aproveitamento, aos amigos soviéticos.
Trabalhou
corretamente com a rede de colaboradores (4-6 em diferentes períodos), os quais,
sob sua direção, adquiriram habilidades e experiência no trabalho de inteligência.
Aqui merecem destaque:“KORCZAK” e “JULIUSZ” (provavelmente trata-se de
cidadãos poloneses – nota do autor) (...).
Chefe da Seção IV do Departamento I, major
J. S.”
A rezidentura no Brasil deixou de
existir quando o major J. regressou ao seu país em julho de 1962. Foi decidido
que as informações por ele reunidas sobre potenciais candidatos a agentes, fossem entregues ao serviço de inteligência
soviético para eventual aproveitamento. Em novembro do mesmo ano, os documentos da
rezidentura “Santos” foram enviadas ao arquivo. Mas isso não significa que, após esse fato, serviços de inteligência da Polônia comunista nunca mais tenham atuado
de alguma maneira no Brasil. Ainda publicaremos mais sobre o assunto.
Mauro “Abranches”
Kraenski
* Agradecimento: Gostaríamos de agradecer ao
pesquisador do Instituto de Memória Nacional polonês, senhor Witold Bagieński, que
nos enviou algumas informações procedentes de seu livro que está em fase de
preparação para ser publicado, intitulado: "Wywiad cywilny Polski Ludowej w latach
1945-1961” (O Serviço de inteligência civil da República Popular da Polônia nos
anos 1945-1961), onde faz uma breve descrição sobre as atividades do serviço de
inteligência comunista polonês no Brasil.
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