Desde janeiro até maio de
1961, durou a ação na qual fizeram parte o serviço de inteligência da
Tchecoslováquia (StB) e sua base no Rio de Janeiro, com o objetivo de
Reatamento das Relações Diplomáticas entre o Brasil e a União Soviética. Estas
relações estavam rompidas desde o ano de 1947. Enquanto a Tchecoslováquia
mantinha relações relativamente normais com o Brasil, os soviéticos possuíam
neste um campo de ação limitado. A Revolução Cubana conscientizou-lhes sobre o
potencial da América Latina e por isso foram obrigados a concentrar-se no maior
país daquela região. Para eles não era suficiente o controle total sobre as
atividades do serviço de inteligência “tcheco”; eles também desejavam estar
presentes legalmente.
A tarefa de estabelecer novamente as relações
diplomáticas foi confiada a um homem que parecia ter sido „destinado para
isso”. Esse homem exerceu influência direta sobre Cuba e inclusive tornou-se
amigo pessoal de Fidel e do “Che”. Era um oficial da KGB e também teve bons
relacionamentos pessoais com o novo (a partir de janeiro de 1961) presidente
brasileiro Jânio Quadros, que conheceu em 1959, quando foi seu guia e tradutor
em Moscou e Leningrado. Na época Jânio Quadros visitou a URSS como um político
de oposição.
Este oficial da KGB, mesmo cumprindo um papel muito importante em
Havana durante a crise no Caribe, de repente foi chamado a Moscou onde Nikita
Siergiejewicz Chruszczow lhe confiou uma importante missão: “Você vai para o
Brasil”. Para que esta missão obtivesse sucesso, era necessário „incluir” nesta os „Tchecos”, pois estes já
possuíam na época um certo domínio pelo „terreno” e possuíam seu contato
(trata-se aqui de contato legal) até mesmo no gabinete presidencial. Os
“tchecos”, então, ajudaram a obter o visto para este que talvez tenha sido o
primeiro cidadão soviético a visitar legalmente o Brasil desde o ano de 1947.
Além disso, foram apanhá-lo no aeroporto, ajudaram-lhe depois a alojar-se no
hotel “Miramar” no Rio de Janeiro e inclusive... ajudaram-lhe a se vestir (no
relatório da base da StB no Rio está escrito que lhe ajudaram a comprar um
paletó, outras peças de roupa e uma mala), ajudaram a trocar dinheiro na casa
de câmbio, etc..Depois compraram para ele a passagem aérea até Brasília
(capital), onde deveria encontrar-se com Quadros, que em 1959 havia lhe
garantido pessoalmente que quando precisasse “receberia o visto na hora”.
Bem,.. não foi bem
assim,...sem a ajuda „tcheca” ele não teria recebido o visto e os „Tchecos”
levaram um mês para consegui-lo. Mas, depois que o oficial da KGB em questão,
com „disfarce” de jornalista, chegou ao Brasil, até mesmo a audiência com o
presidente já não era tão certa. Os “Tchecos” graças ao seu contato (contato
legal; não se trata de contato secreto) no gabinete presidencial (o chefe do
departamento cultural – esse funcionário possuía o codinome de MOGUL e como
possuía uma visão católica e conservadora e além disso era uma pessoa de ótima
situação financeira, não servia para ser recrutado) conseguiram rapidamente que
fosse atendido pela „eminência parda” do presidente, seu secretário pessoal
José Aparecido. Isso tudo porque, por uma questão de má sorte, no dia em que o
enviado soviético chegou a capital, o presidente precisou viajar por alguns
dias.. A data do próximo encontro foi estipulada e no dia 5 de maio de 1961
Aleksander Iwanowicz Aleksejew (seu sobrenome verdadeiro era Szytow) após
regressar ao Rio para depois decolar novamente para a capital, encontrou com o
presidente brasileiro.
Esta conversa trouxe o efeito
esperado e ao final do ano as relações foram restabelecidas oficialmente.
© Mauro
"Abranches" & Vladimír Petrilák
**Todos os nossos artigos relacionados com a
StB são escritos em base aos documentos que fazem parte do acervo do arquivo
mantido pelo Instituto para o Estudo de Regimes Totalitários da República
Tcheca que preserva, pesquisa, promove,
publica e disponibiliza ao público os documentos existentes.
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